9.6.15
5.9.13
On the wire.
©Seung Mo Park
Às vezes também nos sentimos recortados,
mas o efeito nunca é tão belo.
Ou talvez seja, a longo prazo?
Descobri este senhor aqui.
Cuidado com os arranhões.
Às vezes também nos sentimos recortados,
mas o efeito nunca é tão belo.
Ou talvez seja, a longo prazo?
Descobri este senhor aqui.
Cuidado com os arranhões.
9.5.13
4.12.12
Dentro e sobre os homens.
Como o sangue, corremos dentro dos corpos no momento em que abismos os puxam e devoram. Atravessamos cada ramo das árvores interiores que crescem do peito e se estendem pelos braços, pelas pernas, pelos olhares. As raízes agarram-se ao coração e nós cobrimos cada dedo fino dessas raízes que se fecham e apertam e esmagam essa pedra de fogo. Como sangue, somos lágrimas. Como sangue, existimos dentro dos gestos. As palavras são, tantas vezes, feitas daquilo que significamos. E somos o vento, os caminhos do vento sobre os rostos. O vento dentro da escuridão como o único objecto que pode ser tocado. Debaixo da pele, envolvemos as memórias, as ideias, a esperança e o desencanto.
Depois das nuvens, no último lugar do mundo, ficamos aonde não chegam as vozes. Os nossos olhares estendem-se aos cantos mais esquecidos das casas, ao fundo do mar, aos lugares que só os cegos vêem, às rochas cobertas por folhas na floresta, às ruas de todas as cidades. Os nossos olhares tocam os lugares iluminados e tocam os lugares negros. Ninguém e nada nos pode fugir. À noite, estendemos os braços para entregar uma bala, ou um frasco de veneno, ou uma lâmina, ou uma corda. À noite, tocamos em rostos. E sorrimos. O som de um tiro. O fogo dentro de um frasco de veneno. Sangue a secar na linha de uma lâmina. Uma corda esticada na noite. Morte fogo sangue morte. E sorrimos. Longe da lua, depois das nuvens, o nosso rosto é uma ferida aberta no céu da noite. O mundo, diante de nós. Podemos tocar-te agora. Com o movimento mais pequeno de um dedo, podemos destruir aquilo que te parece mais seguro. Estás diante de nós. Se quisermos, podemos tocar-te. Se quisermos, podemos destruir-te.
Dentro e sobre os homens, somos o medo. São as nossas mãos que determinam a fúria das águas, que fazem marchar exércitos, que plantam cardos debaixo da pele. Sabemos que nos conheces. Em algum instante da tua vida, enchemos-te e envolvemos-te com a imagem da nossa voz, a imagem do nosso significado, o silêncio e as palavras. Num instante que escolhermos podemos voltar a encher-te e a cobrir-te. Sabemos que conheces o frio e a solidão à margem das estradas quando a noite é tão escura, quando a lua morreu, quando existe um deserto de negro à margem das estradas. Olha para dentro de ti e encontrar-nos-ás. Olha para o céu, depois das nuvens, e encontrar-nos-ás. Nunca poderás esconder-te de nós. Esse é o preço por caminhares sobre a terra onde, um dia, entrarás para sempre. As últimas pás de terra a cobrirem-te serão as nossas pálpebras a fecharem-se. Só então poderás descansar.
Somos o medo. Conhecemos tantas histórias. Todos os amantes que olham pela janela e imaginam que se perderam para sempre. Todos os homens que, num quarto de hospital, abraçam os filhos. Todos os afogados que, pela última vez, levantam a cabeça fora de água. Todos os homens que escondem segredos. E tu? Escondes algum segredo? Não precisas de responder. Conhecemos a tua história. Vimos-te mesmo quando não nos vias. Vemos-te agora. Escondes algum segredo? Responde quando te olhares ao espelho. O teu rosto duplicado: o teu rosto e o teu rosto. Quando vires os teus olhos a verem-te, quando não souberes se tu és tu ou se o teu reflexo no espelho és tu, quando não conseguires distinguir-te de ti, olha para o mais fundo dessa pessoa que és e imagina o que aconteceria se todos soubessem aquilo que só tu sabes sobre ti. Nesse momento, estaremos contigo. Envolver-te-emos e estarás sozinho.
Depois das nuvens, sobre os homens, debaixo da pele, dentro dos homens, esperamos por ti. Estamos a ver-te agora, enquanto lês. Estaremos a ver-te quando deixares de pensar nestas palavras. Dentro e sobre o teu rosto, sabemos os teus segredos. Sabemos aquilo que escondes até de ti próprio. Não nos podes fugir. Na palma das nossas mãos seguramos o teu coração, podemos esmagá-lo. Não podes fazer nada para nos impedir. O nosso olhar está parado sobre cada um dos teus gestos e sobre cada uma das tuas palavras. Diz uma palavra agora. Faz um gesto. Sorrimos perante as tuas palavras, como sorrimos perante o teu silêncio. Ninguém poderá proteger-te. Ninguém pode proteger-te agora. És ainda menos do que imaginas. Nós assistimos a mil gerações de homens como tu. Para nosso prazer, deixámo-los caminhar pelas linhas das nossas mãos. Para nosso prazer, tirámos-lhes tudo. Guiámos gerações inteiras de homens por túneis que construímos em direcção a nada. E, quando chegaram ao vazio, sorrimos. És igual a todos eles. Esperamos por ti dentro e sobre o teu rosto. Continua o teu caminho. Segue por essa linha da nossa mão. Nós sabemos onde termina esse túnel em que caminhas. Continua a caminhar. Nós esperamos por ti. Sorrimos ao ver-te. Depois das nuvens, somos o medo. Debaixo da pele, somos o medo.
[José Luís Peixoto]
3.10.12
A pele e a alma.
“The Three” & “This Existence”, de Isadora Kosofsky*.
Podem ver o projecto completo aqui, de preferência em "full screen".
Também gostei de ler o texto da autora, que encontrei neste site, sobre as duas partes do trabalho.
*[Isadora Kosofsky is a Los Angeles-based documentary photographer. She was the recipient of the 2008 Los Angeles Spotlight Award in Photography. Her projects have received recognition from Women in Photography International, Prix de la Photographie Paris and The New York Photo Festival. Her work was recently acquired by The Philadelphia Museum of Art for their permanent collection. Isadora’s work has also been featured in TIME Lightbox and Le Monde Magazine, among others.]
26.9.12
Pele a mais.
Agora, a par dos corpos perfeitos e dietas milagrosas em que, incrivelmente, ainda alguns acreditam, há uma série de manifestações que vão em sentido contrário. Segundo essas manifestações de opinião, umas mais comerciais e outras mais artísticas, todos temos direito a ter o nosso próprio corpo, com formas e proporções únicas, não obedecendo a nenhum padrão cultural, comercial, estético, ou outro…
Mas será mesmo assim? Espreitem para ver.
O projecto chama-se Full Beauty e é da autoria de Yossi Loloi.
Não fazendo juízo de valor algum sobre os corpos das senhoras (só há mulheres…) fiquei, como se costuma dizer, sem comentários.
A flexibilidade extrema da pele e o seu comportamento enquanto o corpo de transforma é o que me interessa aqui… mas não posso deixar de pensar nos corpos e na sua exposição.
E se podemos dizer, sem sermos culturalmente sensorados, que a magreza extrema faz mal à saúde, que os modelos-cabide são um péssimo exemplo e uma forma irreal e doentia de ver o corpo da mulher… porque não poderemos dizer o mesmo dos exemplos que aqui se mostram?
[Independentemente de concordar com o manifesto do artista, que podem ler aqui.]
Bom, fiquem com a pele.
7.8.12
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